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(Foto Ephemera)

Avelino Tavares
1938 - 2023

Figura incontornável da cena cultural do Porto e da História da Música em Portugal, Avelino Tavares ficará como um dos fundadores do Mundo da Canção (MC). O Mundo da Canção – nome «cândido» que pretenderia escapar ao lápis azul da censura – publicava desde 1969 letras de canções pop que os leitores pediam, mas, «pelo meio», passava também os poemas das canções do Zeca Afonso ou do Jean Ferrat, e abria as páginas a textos e polémicas mais comprometidas com os ventos de liberdade que se antecipavam. O MC tornou-se uma referência na contestação à pasmaceira cultural que Portugal era, e uma referência também na oposição ao regime. O Mundo da Canção teve existência entre 1969 e 1985, tendo ressurgido posteriormente com números temáticos.

Avelino Tavares foi também um dos editores de outra publicação musical de referência do início dos anos 70, a Memória do Elefante, fez rádio, teve uma editora/ distribuidora de discos e uma discoteca e produziu espectáculos (José Afonso, Carlos Paredes, José Mário Branco, Atahualpa Yupanqui, Leo Ferré, Paco de Lucia, Egberto Gismonti, Astor Piazzola, e muito outros), e esteve ainda na produção e direcção do Matosinhos em Jazz, do Festival de Jazz do Porto e dos primeiros Funchal Jazz.

Mesmo se gostava de Jazz, e tivesse trabalhado com o Jazz por muitas vezes, a música de Avelino Tavares era a «música popular»; as músicas populares: as folk, world music, etnográfica, etc, de que era um conhecedor; muito de acordo com as suas assumidas convicções políticas de esquerda.

Conheci o Avelino Tavares no início dos anos 90, quando fazia promoção para a Dargil, e ele era o dono da Discantus, uma editora do Porto, e encontrei-o por inúmeras vezes depois, por razões do métier dos discos, ou devido ao Jazz. E conheci nele «um homem do Porto», de uma enorme energia, obstinado mas franco, directo e impulsivo, e um homem de convicções.

Enfim, a distância e a vida afastou-nos; fui-o encontrando, até que adoeceu, há alguns anos, e fui sabendo dele por alguns amigos.

A vida de um homem como o Avelino Tavares não se pode resumir em dez linhas, e ele foi um homem que deixou marca..

Enfim, eu tenho uma dívida para com o Avelino Tavares: foi por causa do Mundo da Canção que eu fui ao Cascais Jazz de 1971 e foi também através do Mundo da Canção que eu conheci o Zeca Afonso e muito mais. Coisas que não se esquecem, e devo-lhe isso; a ele e aos homens que a faziam.

Avelino Tavares faleceu ontem. Até amanhã, companheiro!

26 Setembro 2023